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Inadimplência empresarial – recorde negativo e situação preocupante

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O levantamento feito pela Serasa Experien apresentou um número recorde de 3,57 milhões de empresas inadimplentes até o último mês de julho.  Esse mesmo estudo aponta um crescimento de 19,4% desde 2012. Esse número pode ser considerado muito preocupante pelo fato de representar aproximadamente 50% do total de empresas ativas no país.

Com certeza a situação econômica do Brasil têm influência enorme para esses resultados, conforme pontuado a seguir:

1) Crescimento econômico

Posso considerar como fatores críticos para esse retrato o enfraquecimento econômico do país nos últimos anos, quando tivemos um crescimento médio do PIB entre 2012 e 2013 de 1,76%, enquanto que a média mundial foi de 3,3%. O Brasil apresentou o segundo pior crescimento da América do Sul, ficando a frente apenas da Venezuela.

Para piorar a situação, o Brasil entrou no terceiro trimestre em situação de recessão técnica, com PIB negativo de 0,6% e com perspectivas de crescimento abaixo da meta oficial e da média mundial novamente, devendo fechar o ano com crescimento acumulado de 1,4%.

Se a economia vem apresentando crescimento cada vez menor, a tendência é sim de aumentar a possibilidade de endividamento das empresas.

2) Endividamento das pessoas

Outro fator de peso é o nível de endividamento das pessoas que também tem apresentado crescimento. Em julho desse ano o número de inadimplentes pessoa física cresceu 6,6% e até o momento 45% da renda dos brasileiros está voltada para dívidas (recorde histórico). É cada vez mais comum as pessoas destinarem dinheiro para cobrir dívidas ou até mesmo trocar dívidas mais caras por mais baratas. Isso com certeza influencia na queda de consumo.

Um empresário do ramo de varejo comentou comigo há alguns dias que está cada vez mais comum clientes ratearem compras com 2 ou mais cartões de crédito, testando o limite de cada um.

3) Taxa de juros

O crédito no Brasil ainda é muito caro se comparado a outras economias. Esse crédito mais caro proporciona aumento de custos, o que consequentemente afeta negativamente o consumo. Com a elevação da taxa SELIC para conter a saída de dólares, é bem possível que as taxas para empresas e pessoas físicas também aumentem, o que poderá continuar provocando o aumento da inadimplência.

4) Fuga de compradores

O brasileiro vem gastando cada vez mais fora do país, o que acaba enfraquecendo a economia interna. Com o aumento das importações e com as facilidades de saída para o exterior proporcionadas pelas melhores condições de pacotes de viagem, o mercado local vai a esfriando.

Em agosto de 2014 a balança fechou de forma negativa, com mais saídas do que entrada de recursos financeiros. O déficit foi de US$ 42 milhões. Interessante disso tudo é que a cotação do dólar no Brasil ainda favorece mais as exportações do que as importações e desfavorece as viagens internacionais. Mas, mesmo assim, o mercado internacional está mais competitivo que o nosso. Está mais barato comprar o que se quer no padrão desejado fora do país.

Fatores políticos influenciam muito?

É lógico que os fatores políticos tem influenciado demais para essa situação, principalmente por que exercem grande força sobre a economia. Mas, o mais comum é ouvir que o problema vivido pelo Brasil nos últimos anos é consequência de uma crise internacional. Como isso procede se todos os países do BRICS tem crescido mais que o Brasil? Como levar isso a sério se na América Latina o país só cresceu mais que a Venezuela que se encontra em grave crise política e social? Será que a condução política e econômica do Brasil está correta? Com certeza não.

Não se pode tapar o sol com a peneira. O Brasil tem problemas internos seríssimos, que já foram pontuados aqui no Blog do Empreendedor, que tornam o Brasil um país muito caro para se manter. Ou você acha que caro é viver no Canadá, onde alguém que recebe o equivalente ao salário mínimo precisa de 7 meses de trabalho para comprar um carro que o brasileiro, que recebe salário mínimo, precisaria de 130 meses? Quando se associa preço ao consumidor e poder de consumo, o brasileiro literalmente paga para viver.

Como melhorar? É necessário trabalhar de forma urgente os pontos abaixo (já destacados aqui no Blog):

- Reduzir a burocracia, que continua excessiva, estando entre os piores do mundo;

- Reverter a situação tributária, que apresenta uma carga punitiva, sendo necessárias 2600 horas de trabalho para pagar impostos. Essa carga aumentou nos últimos anos e existe possibilidade de novo aumento, já que as contas públicas sempre fecham com déficit.

- Melhorar a infraestrutura, que atualmente é deficitária em todos os modais, o que encarece todo o processo logístico. Para se ter uma ideia uma operação no porto mais moderno do Brasil (Santos) precisa de 22 homens. A mesma operação no porto de Singapura precisa de 2 homens para que seja realizada. E talvez em tempo menor.

- A corrupção não foi inventada no Brasil, mas o país parece que se apropriou de vez da “patente”. São bilhões que vão para o ralo todos os anos, encarecendo ainda mais a vida do brasileiro.

- Poderei citar também a necessidade de trabalhar a questão da segurança, da oferta insuficiente de mão de obra qualificada, o custo de energia elétrica ( um dos 20 maiores do mundo), entre outros tantos.

Mas será que existe interesse político para melhorar algo? O Brasil vem perdendo as chances que são dadas e já viramos o século ouvindo que estamos no país do futuro. Gostaria de saber que futuro é esse que não chega.

O que fazer como cidadão?

Com relação a política brasileira tenho sido muito cético e defendo cada vez mais, com base em números, uma colocação do já falecido economista Milton Friedman, que dizia o seguinte sobre forma de atuação dos governos:

“Se colocarem o governo federal para administrar o deserto do Saara, em cinco anos faltará areia”.

Estou propondo a todos abandonar a política? Não. Estou propondo que sejamos cada vez mais maduros para assumirmos as nossas responsabilidades como cidadãos em um sistema democrático. Para isso é fundamental assumirmos cada vez mais o nosso papel com foco no desenvolvimento da nação e não de um partido político.

O que fazer como empresário?

Se não posso transformar facilmente esse ambiente, também não deverei esperar que o meio político o faça. Se eu quero mudanças, elas devem partir da empresa para esse ambiente. Não adianta reclamar da bagunça na cidade se não consigo organizar a casa onde vivo.  Como empresário é fundamental saber que “visitantes” desejados e indesejados poderão potencializar a bagunça dentro da empresa. O que minimiza essa possibilidade é o nível de organização praticado.

Por isso afirmo que não existe segredo para se manter bem, mesmo em um cenário turbulento. O caminho está na gestão profissional, que exige cada vez mais dos empresários os seguintes comportamentos:

- Capacidade de análise (ambiente externo e interno);

- Planejamento bem feito;

- Implementação de modelo de gestão criativo e cada vez mais eficiente;

- Envolvimento e motivação das pessoas certas;

- Desenvolver bem as relações com os diversos stakeholders;

- Não misturar vida pessoal com empresarial. Conheço diversos que pegam financiamento para empresa, mas que destinam boa parte para investimentos e despesas pessoais. Até quando a empresa aguenta?

E se a empresa já se encontra endividada. O que fazer?

O primeiro passo é ter equilíbrio para analisar a situação e as possíveis saídas. Diante de tal situação sugiro:

- Diagnóstico detalhado da real situação da empresa;

- Projeções de resultados, com estratégias para sair da situação. Esse é o momento de identificar se existe solução;

- Corrigir os erros gerenciais cometidos e adotar as melhores práticas;

- Negociar as dívidas atuais de forma a atender as projeções feitas;

- Se precisar de capital de giro, verificar as melhores possibilidades no mercado, entre elas financiamento bancário;

- Verificar se na organização existem competências para conduzir esse processo. Na maioria dos casos se recomenda a contratação de um profissional com as competências necessárias.

Diante de tudo o que foi apresentado, fica a conclusão de que o Brasil precisa avançar de forma devida no sentido de propiciar um melhor ambiente de negócios, tirando o país da desonrosa 116a mundial. Não é mais admissível ocupar a 57a em competitividade em um ranking envolvendo 60 países. Que ao invés de colocarmos a culpa no mercado internacional, deveríamos organizar antes o ambiente interno.

Os cidadãos (empresários ou não) precisam assumir cada vez mais suas responsabilidades e não ficar apenas esperando. As grandes mudanças acontecem quando acreditamos nelas e fazemos esforço para materializarmos.

Até a próxima!

 


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